Energia para Cultivar a Vida
Agroecologia e o Papel Estratégico das Energias Renováveis
A agroecologia é mais do que um modelo de produção agrícola: é uma proposta de modo de vida, de cuidado com a terra, com a água e com as pessoas.
Exige relações equilibradas entre os seres humanos e a Natureza, fortalecendo práticas sustentáveis, saberes tradicionais e tecnologias sociais.
Mas, há um elemento muitas vezes negligenciado nesse debate — e que, sem esse componente, simplesmente não há como avançar: a energia elétrica.
Sem Energia Limpa, não há Agroecologia
Pode parecer provocativo, mas é a mais pura verdade: sem energia limpa, não há agroecologia possível em seu pleno potencial.
É a eletricidade que garante o funcionamento de bombas d'água para irrigação, de sistemas de armazenamento de sementes, de tecnologias sociais que otimizam o uso da água e do solo.
É a energia que alimenta os sistemas de comunicação digital que conectam comunidades rurais com as redes de comercialização, que permitem cursos de formação e que fortalece a gestão autônoma dos territórios.
Se quisermos uma agroecologia que seja emancipadora, produtiva e resiliente, precisamos falar com urgência e seriedade sobre a infraestrutura energética que a sustenta.
E mais: precisamos escolher que tipo de energia vai impulsionar esse futuro.
Por quê as Energias Renováveis?
A energia não é neutra e pode libertar ou aprisionar.
Pode proteger o planeta ou destruí-lo.
E, aqui, entra o papel estratégico das energias renováveis, especialmente a solar e a eólica.
Ao contrário dos combustíveis fósseis e das grandes hidrelétricas que causam impactos socioambientais profundos, as fontes renováveis permitem autonomia energética, baixo impacto ambiental e adaptação local às necessidades reais das comunidades.
As energias renováveis descentralizam o poder e, também, o acesso à dignidade.
CEA Mandembo e a Casa12VoltsR: um exemplo concreto
O Centro de Educação Ambiental Mandembo, com a experiência pioneira da Casa12Volts, é a prova viva de que é possível viver e produzir com energia limpa, eficiente e adequada ao bioma, à cultura local e às demandas da agroecologia.
Na Casa12Volts todos os sistemas funcionam com energia solar e eólica, sem conversão para 110V ou 220V — ou seja, sem desperdício, com autonomia e sem risco de choque elétrico.
Essa proposta é mais do que uma casa sustentável: é um laboratório vivo de soberania energética, que dialoga diretamente com a soberania alimentar e hídrica.
Na Casa12Volts a energia não vem de fora como uma imposição, mas nasce do próprio lugar, do sol que brilha e dos ventos que sopram sobre Mandembo, alimentando bombas de irrigação, iluminação, recarregadores, câmeras de segurança, computadores e todo um ecossistema de vida e produção sustentável.
Energia, assim como a água, é um bem comum
Fala-se muito — e com razão — da proteção das águas: das nascentes, dos mananciais, dos aquíferos. A água é vista como sagrada, como direito, como bem essencial. Mas, e a energia?
Precisamos avançar no entendimento de que a energia também é um bem comum. Assim como defendemos o Cerrado, a Mata Atlântica, os rios e as fontes de água, devemos defender o acesso universal, justo e limpo à energia elétrica — especialmente em territórios agroecológicos, assentamentos, comunidades quilombolas, indígenas, rurais e periféricas.
Agroecologia sem água é impossível. Mas, agroecologia sem energia também é.
Diretriz para o futuro
Se quisermos garantir a expansão e a consolidação da agroecologia na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais e no Brasil, devemos colocar a energia renovável como eixo estruturante das políticas públicas, dos editais de fomento, das linhas de crédito e das formações técnicas.
Cada SAF (Sistema Agroflorestal), cada horta urbana, cada escola do campo, cada cozinha comunitária, cada casa de sementes e cada ponto de comercialização direta de alimentos orgânicos precisa estar conectado a um sistema de energia limpa e acessível.
Agroecologia por inteiro!
Defender a agroecologia é defender a vida e defender a vida, hoje, é lutar por água limpa, terra fértil e energia renovável.
A experiência do CEA Mandembo e da Casa12Volts aponta o caminho: é possível fazer diferente, é possível fazer melhor.
O que falta não é tecnologia — o que falta é vontade política e reconhecimento da energia como parte central da soberania agroecológica.
Uma outra matriz energética é possível e necessária
Ao contrário do modelo dominante, que concentra geração e distribuição em grandes empresas e exige linhas extensas, altas tensões para transmissão e dependência de concessionárias, defendemos uma matriz modular, local, autônoma e sustentável.
Nesse modelo, cada unidade produtiva, cada casa, cada coletivo agroecológico pode e deve gerar e consumir sua própria energia — sem desperdício, sem agressões ambientais, com pleno controle local.
Isso é possível com tecnologias acessíveis, como os sistemas solares e eólicos de pequena escala, operando fora da rede convencional (off-grid), com inteligência, eficiência energética e com múltiplas voltagens adaptadas à real necessidade de cada equipamento.
O que não defendemos
Não apoiamos a expansão de grandes usinas solares ou eólicas que, apesar de utilizarem fontes renováveis, seguem reproduzindo lógicas extrativistas.
Essas mega instalações, muitas vezes construídas em territórios de povos tradicionais, causam desmatamento, compactação do solo, expulsão de comunidades e impactos graves sobre a biodiversidade e os modos de vida locais.
Esses parques energéticos, em nome da “transição verde”, deslocam a energia da terra para o mercado e não para as pessoas. Rejeitamos esse modelo.
A energia que defendemos nasce do território e permanece nele. Serve para alimentar a vida, não o lucro.
Chegou a hora de afirmar:
Energia é agroecologia. Energia renovável é resistência. Energia limpa é o futuro!